Mulata, s/d
Di Cavalcanti (Brasil, 1897-1976)
Óleo sobre tela.
CANÇÃO
Gonçalves Crespo
A Bernardino Machado
I
Mostraram-me um dia na roça dançando
Mestiça formosa de olhar azougado,
Co’um lenço de cores nos seios cruzado,
Nos lobos de orelha pingentes de prata.
Que viva mulata!
Por ela o feitor
Diziam que andava perdido de amor.
II
De entorno dez léguas da vasta fazenda
A vê-la corriam gentis amadores,
E aos ditos galantes de finos amores,
Abrindo seus lábios de viva escarlata,
Sorria a mulata,
Por quem o feitor
Nutria quimeras e sonhos de amor.
III
Um pobre mascate, que em noites de lua
Cantava modinhas, lunduns magoados,
Amando a faceira dos olhos rasgados,
Ousou confessar-lhe com voz timorata…
Amaste-o, mulata!
E o triste feitor
Chorava na sombra perdido de amor.
IV
Um dia encontraram na escura senzala
O catre da bela mucamba vazio;
Embalde recortam pirogas o rio,
Embalde a procuram nas sombras da mata.
Fugira a mulata,
Por quem o feitor
Se foi definhando, perdido de amor.
Em: Obras Completas, Gonçalves Crespo, Livros de Portugal, s/d, Rio de Janeiro.
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