domingo, 29 de abril de 2012

As Promessas de um Rosto




 


Amo, ó pálida beleza, os teus cenhos curvados
Que dão às trevas todo o império;
Teus olhos, embora negros, me inspiram cuidados
Que não têm nada de funéreos.



Teus olhos, que imitam a negrura dos cabelos
Da tua longa crina elástica,
Teus olhos langues me dizem:
"Amante, se o apelo




Queres seguir da musa plástica
Que infundimos no teu ser, ou tudo que contigo
Em matéria de gosto trazes,
Poderás ver, desde as nádegas até o umbigo,
Que nós te fomos bem verazes;


Encontrarás, sobre dois belos seios pontudos,
Dois grandes medalhões de bronze,
E sob o ventre liso, macio como veludo,
Amorenado como bronze,

Um rico tosão que à tua enorme cabeleira
Copia no negrume e na espessura;
De tão sedoso e encrespado, ele te iguala inteira,
Noite sem astros, Noite escura!"




Baudelaire
Pintura a óleo de Romeo Zanchett

sábado, 28 de abril de 2012

Terceiro Soneto de "Les Stupra"



Franzida e obscura como um ilhós violeta,
Ela respira, humilde, entre a relva rociada
Inda do amor que desce a branda rampa das
Alvas nádegas até o coração da  greta.
.

Filamento iguais a lágrimas de leite
Choraram sob o vento atroz que os arrecada
E os impe´le através de marnas arruivadas
Até perderem-se na fenda dos deleites.
.

Beijando-lhe a ventosa, o meu
sonho o freqüenta.
A minha alma, do coito material ciumenta, 
Qual lacrimal e ninho de soluços usa-a.


É a oliva esvaída e é a flauta agreste.
O tubo pelo qual desce a amêndoa celeste,
Feminil Canaã em seus rocios reclusa. 
Rimbaud
Obra Ilustrativa - Mulher no banho - Óleo de Romeo Zanchett

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Alma minha gentil, que te partiste



Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etério, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te;

Roga a Deus que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

Luis Vaz de Camões