sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Confidência do Itabirano



Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. 




A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa…
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói! 



Carlos Drummond de Andrade



(Poema digitado e conferido por Fabio Rocha em 17 de setembro de 2012, 
publicado em Antologia Poética – 12a edição – 
Rio de Janeiro: José Olympio, 1978, ps. 36 e 37)

Nenhum comentário:

Postar um comentário