Só o tempo passado é que é tempo «reconhecível» — o tempo que «vem», porque «vai», não se detém, não fica presente.
Portanto, para o escritor que eu sou, não se trata de «recuperar» o passado, e muito menos de querer fazer dele lição do presente.
O tempo vivido (e apenas ele, do ponto de vista humano, é tempo «de facto») apresenta-se unificado ao nosso entendimento, simultaneamente completo e em crescimento contínuo.
Desse tempo que assim se vai acumulando é que somos o produto infalível, não de um inapreensível presente.
José Saramago,
in 'Cadernos de Lanzarote (1995)'
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