Uma réstia de sol buscando a que se aqueça,
À carícia da luz toda estremece e espicha
O pescoço, empinando a indecisa cabeça.
Ei-la aquecendo ao sol; mas de repente a bicha
Desatina a correr, sem que a rumo obedeça,
Rápida num rumor de folha que cochicha
Ao vento, pelo chão, numa floresta espessa.
Traça uma reta, e pára; e a cabeça abalando,
Olha aqui, olha ali; corre de novo em frente
E outra vez, pára, a erguer a cabeça, espreitando…
Mal um inseto vê, detém-se de repente,
Traiçoeira e sutil, os insetos caçando,
A bater, satisfeita, a papada pendente…
Em: Poesias completas, Da Costa e Silva, Nova Fronteira: 1985, Rio de Janeiro
Antonio Francisco da Costa e Silva – (Amarante, Piauí, 1885 – Rio de Janeiro, 1950) Poeta. Começou
a compor versos por volta de 1896, tendo seus primeiros poemas
publicados em 1901. Todavia, seu primeiro livro de poesia, Sangue, foi lançado só em 1908, primeira obra da última geração simbolista. . Formou-se
pela Faculdade do Direito do Recife. Foi funcionário do Ministério da
Fazenda, tendo ocupado os cargos de Delegado do Tesouro no Maranhão, no
Amazonas, no Rio Grande do Sul e em São Paulo. Viveu não só na capitais
desses estados, mas também, por mais de uma vez, em Belo Horizonte e no
Rio de Janeiro. Jornalista. Exerceu função pública na Presidência da
República do Brasil, entre 1931 e 1945, a pedido do então presidente
Getúlio Vargas. É o autor da letra do hino do Piauí. Recolheu-se ao silêncio, demente, pelos últimos 17 anos de vida. Faleceu em 29 de junho de 1950.
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