sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Mais uma de amor



Que algumas pessoas não acreditem que o homem esteve mesmo na lua, dá até pra entender, mas tem gente que não acredita em amor, e isso é imperdoável. Podemos não acreditar no que nossos olhos vêem, mas não podemos desacreditar no que sentimos. 


Você já ficou com a boca seca diante de uma pessoa? Já teve receio de ela estar ouvindo as batidas do seu coração? Bem, isso tudo não é prova de amor, apenas de ansiedade. Amor é outra coisa.

Amor é quando você acha que a pessoa com quem você se relacionava era egoísta, possessiva e infantilóide e isso não reduz em nada a sua saudade, não impede que a coisa que você mais gostaria neste instante é de estar tocando os cabelos daquela egoísta, possessiva e infantilóide.

Amor é quando você não compreende direito algumas coisas, mesmo tendo o QI mais elevado da turma, mesmo dominando o pensamento de Sócrates, Plutão e Nietzche. Perguntas simples ficam sem resposta, como por exemplo: como é que eu, sendo tão boa gente, tão honesto e com um coração tão grande, não consigo fazê-la perceber que ela seria a pessoa mais feliz do mundo ao meu lado?

Amor é quando você passa dias sem ver quem você ama, depois passam-se meses, e aí você conhece outra pessoa e passam-se décadas, e você já nem lembra mais do passado, e um dia qualquer de um ano qualquer você se olha no espelho e pensa: como é que eu consegui enganar a mim mesmo durante todo esse tempo?

Amor é quando você sente que seria capaz de amarrar o cadarço de um tênis com uma única mão ou de fazer a chuva parar só com a força do pensamento caso a pessoa que você ama lhe mandasse um sim deste tamanho. 

 
Amor é quando você sabe tintim por tintim as razões que impedem o seu relacionamento de dar certo, é quando você tem certeza de que seriam muito infelizes juntos, é quando você não tem a menor esperança de um milagre acontecer, e essa sensatez toda não impede de fazê-lo chorar escondido quando ouve uma música careta que lembra os seus 14 anos, quando você acreditava em milagres. Tudo isso pode parecer uma grande dor, mas é uma grande dádiva, porque a existência do amor está toda hora sendo lembrada. Dor é quando a gente está numa relação tão fácil, tão automática, tão prática e funcional que a gente até esquece que também é amor.



Martha Medeiros

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

A luta amorosa com as palavras

Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Há! Mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas… Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a eternidade.

Nasci do rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro – o mesmo tendo acontecido a Sir Isaac Newton! Excusez du peu.

Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que nunca acho que escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! Sou é caladão, introspectivo. Não sei por que sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros ?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante 5 anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Erico Veríssimo – que bem sabem (ou souberam), o que é a luta amorosa com as palavras. 
Mario Quintana
(texto escrito pelo poeta para a revista “Isto É” de 14/11/1984)

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Bilhete

Se tu me amas,
ama-me baixinho.

Não o grites de cima dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.

Deixa em paz a mim!

Se me queres,
enfim,

tem de ser bem devagarinho,
amada,

que a vida é breve,
e o amor
mais breve ainda.


Mario Quintana

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O Tempo

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

Mário Quintana



domingo, 21 de dezembro de 2014

O Verão




Amplo Horizonte, 1969
Theodoro De Bona (Brasil, 1904 – 1990)
-

 

 

 

O Verão

III


Coro das quatro estações:
 –
Cantemos, irmãs!  Cantemos
Como ardem as ribanceiras
Cantemos, irmãs, dancemos
À sombra dessas mangueiras.
— 
     O Verão:

Sou o verão ardente
Que, vivo e resplendente,
Acaba de nascer;
Nas matas abrasadas,
O fogo das queimadas
Começa a se acender.
Tudo de luz se cobre…
Dou alegria ao pobre;
Na roça a plantação
Expande-se, viceja,
Com a vinda benfazeja
Do provido Verão.
Sou o Verão fecundo!
Nasce no céu profundo
Mais rútilo o arrebol…
A vida se levanta…
A Natureza canta…
Sou a estação do Sol!
 
Coro das quatro estações:
Que calor, irmãs! Cantemos
Como ardem as ribanceiras
Cantemos, irmãs, dancemos,
À sombra dessas mangueiras.
—-

Verão, da série das Quatro Estações; Em: Poesias Infantis, Olavo Bilac, 
Livraria Francisco Alves: 1949, Rio de Janeiro

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Primavera

Imagem:Vaso com margaridas e anêmonas, Van Gogh (óleo sobre tela 1887)
A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.

Cecília Meireles

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A um ausente


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,

enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Carlos Drummond de Andrade


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O Ovo Podre

Por que a expressão do que não houve
não chega à força do ovo podre?

Há muitos podres pelo mundo,
muitos decerto mais imundos.

O podre do ovo está contido
para a maioria dos sentidos

e à vista não há diferença
entre sua saúde e sua doença.

Por que é que o ovo podre, então,
parece pesar mais na mão?

Será que pesa mais o real
quando em defunto, em pantanal?

João Cabral de Melo Neto



terça-feira, 2 de setembro de 2014

Sono das Águas


Há uma hora certa,

no meio da noite, uma hora morta,
em que a água dorme.

Todas as águas dormem:
no rio, na lagoa,
no açude, no brejão, nos olhos d’água,
nos grotões fundos
E quem ficar acordado,
na barranca, a noite inteira,
há de ouvir a cachoeira
parar a queda e o choro,
que a água foi dormir…

Águas claras, barrentas, sonolentas,
todas vão cochilar.
Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,
fios brancos, torrentes.
O orvalho sonha
nas placas da folhagem
e adormece.
Até a água fervida,
nos copos de cabeceira dos agonizantes…

Mas nem todas dormem, nessa hora
de torpor líquido e inocente.
Muitos hão de estar vigiando,
e chorando, a noite toda,
porque a água dos olhos
nunca tem sono…

Guimarães Rosa


domingo, 31 de agosto de 2014

O banho de xampu

Imagem YBMW
Os liquens - silenciosas explosões

nas pedras - crescem e engordam,
concêntricas, cinzentas concussões.
Têm um encontro marcado
com os halos ao redor da lua, embora
até o momento nada tenha mudado.

E como o céu há de nos dar guardia
enquanto isso não se der,
você há de convir, amiga,
que se precipitou;
e eis no que dá. Porque o Tempo é,
mais que tudo, contemporizador.

No teu cabelo negro brilham estrelas
cadentes, arredias.
Para onde irão elas
tão cedo, resolutas?
- Vem, deixa eu lavá-lo, aqui nesta bacia
amassada e brilhante como a lua.
Tradução de Paulo Henriques Britto
Poemas do Brasil, Cia. das Letras, 1999 - São Paulo, Brasil


sábado, 30 de agosto de 2014

O Fim das Coisas

Pode o homem bruto, adstrito à ciência grave,
Arrancar, num triunfo surpreendente,
Das profundezas do Subconsciente
O milagre estupendo da aeronave!
Rasgue os broncos basaltos negros, cave,
Sôfrego, o solo sáxeo; e, na ânsia ardente
De perscrutar o íntimo do orbe, invente
A lâmpada aflogística de Davy!
Em vão! Contra o poder criador do Sonho
O Fim das Coisas mostra-se medonho
Como o desaguadouro atro de um rio...
E quando, ao cabo do último milênio,
A humanidade vai pesar seu gênio
Encontra o mundo, que ela encheu , vazio!


Augusto dos Anjos


sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O Último Poema

Não sei quem me manda a poesia
nem se Quem disso a chamaria.

Mas quem quer que seja, quem for
esse Quem (eu mesmo, meu suor?),

seja mulher, paisagem ou o não
de que há que preencher os vãos.

fazer, por exemplo, a muleta
que faz andar minha alma esquerda,

ao Quem que se dá à inglória pena
peço: que meu último poema

mande-o ainda em poema perverso,
de antilira, feito em antiverso.


João Cabral de Melo Neto



quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Trevas

Haverá, por hipótese, nas geenas
Luz bastante fulmínea que transforme
Dentro da noite cavernosa e enorme
Minhas trevas anímicas serenas?!
Raio horrendo haverá que as rasgue apenas?!
Não! Porque, na abismal substância informe,
Para convulsionar a alma que dorme
Todas as tempestades são pequenas!
Há de a Terra vibrar na ardência infinda
Do éter em branca luz transubstanciado,
Rotos os nimbos maus que a obstruem a esmo...
A própria Esfinge há de falar-vos ainda
E eu, somente eu, hei de ficar trancado
Na noite aterradora de mim mesmo!


Augusto dos Anjos
 

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Decadência

Iguais às linhas perpendiculares
Caíram, como cruéis e hórridas hastas,
Nas suas 33 vértebras gastas
Quase todas as pedras tumulares!
A frialdade dos círculos polares,
Em sucessivas atuações nefastas,
Penetrara-lhe os próprios neuroplastas,
Estragara-lhe os centros medulares!
Como quem quebra o objeto mais querido
E começa a apanhar piedosamente
Todas as microscópicas partículas,
Ele hoje vê que, após tudo perdido,
Só lhe restam agora o último doente
E a armação funerária das clavículas!


Augusto dos Anjos

 

quinta-feira, 31 de julho de 2014

A Nega

Tarsila do Amaral, A negra, óleo s. tela, 100x80, 1923, MAC da USP

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Baianas, 1979

Baianas, 1979 Armando Romanelli ( Brasil, 1945)
Óleo sobre tela colado em eucatex, 20 x 20 cm
Coleção Particular

terça-feira, 29 de julho de 2014

O Bandeirante

Domingos Jorge Velho, o bandeirante (DETALHE)
Benedito Calixto (Brasil 1853 — 1927)


Benedito Calixto de Jesus
(Itanhaém, 14 de outubro de 1853 - São Paulo, 31 de maio de 1927) foi um pintor, desenhista, professor e historiador brasileiro.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Moça com Livro - 1879

 Moça com livro, 1879
José Ferraz de Almeida Júnior
(Brasil, 1850-1899)
óleo sobre tela
Museu de Arte de São Paulo

domingo, 27 de julho de 2014

Paisagem, s/d

Paisagem, s/d
Francisco Rebollo Gonsales (Brasil 1903-1980)
Óleo sobre duratex  46x 33 cm

sábado, 26 de julho de 2014

Noturno


Têm para mim Chamados de outro mundo
as Noites perigosas e queimadas,
quando a Lua aparece mais vermelha
São turvos sonhos, Mágoas proibidas,
são Ouropéis antigos e fantasmas
que, nesse Mundo vivo e mais ardente
consumam tudo o que desejo Aqui.

Será que mais Alguém vê e escuta?

Sinto o roçar das asas Amarelas
e escuto essas Canções encantatórias
que tento, em vão, de mim desapossar.

Diluídos na velha Luz da lua,
a Quem dirigem seus terríveis cantos?

Pressinto um murmuroso esvoejar:
passaram-me por cima da cabeça
e, como um Halo escuso, te envolveram.
Eis-te no fogo, como um Fruto ardente,
a ventania me agitando em torno
esse cheiro que sai de teus cabelos.

Que vale a natureza sem teus Olhos,
ó Aquela por quem meu Sangue pulsa?

Da terra sai um cheiro bom de vida
e nossos pés a Ela estão ligados.
Deixa que teu cabelo, solto ao vento,
abrase fundamente as minhas mão...

Mas, não: a luz Escura inda te envolve,
o vento encrespa as Águas dos dois rios
e continua a ronda, o Som do fogo.

Ó meu amor, por que te ligo à Morte?


Ariano Suassuna

O navio cheio de bananas

Paisagem, maresia
azul e bananais!
No porão do navio,
o ouro dos litorais.

Fruto de um paraíso

Bananal, 2003
João Werner (Brasil, 1962)
óleo sobre tela, 60×80 cm
de mormaço, num alvo
formigueiro de sal
entre negros trapiches.

O horizonte derrama
cal entre as bananeiras.
São roupas de operários,
cantos de lavadeiras.

Como as bananas verdes
à luz do cabureto
logo ficam maduras
quaradas pelo sol

de uma falsa estação,
assim este cargueiro
esplende, no terral,
seu cacheado tesouro.

E o panorama é de ouro
E o dia sabe a sal.

Os melhores poemas de Ledo Ivo, seleção do autor,
Rio de Janeiro, Global Editora: 1983, 1ª edição.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Ariano Suassuna

Caricatura do mestre Ariano Suassuna www.sergiobgomes.wordpress.com

As Palavras

Homem escrevendo, ilustração, Oliver Ray
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,

nas suas conchas puras?

Eugênio Andrade


terça-feira, 15 de julho de 2014

A Canção dos Tamanquinhos

Detalhe do quadro de Van Eyck, O noivado dos Arnolfini

Troc… troc… troc… troc…
ligeirinhos, ligeirinhos,
troc… troc… troc… troc…
vão cantando os tamanquinhos…

Madrugada. Troc… troc…
pelas portas dos vizinhos
vão batendo, Troc… troc…
vão cantando os tamanquinhos…

Chove. Troc… troc… troc…
no silêncio dos caminhos
alagados, troc… troc…
vão cantando os tamanquinhos…

E até mesmo, troc… troc…
os que têm sedas e arminhos,
sonham, troc… troc… troc…
com seu par de tamanquinhos…

Cecília Meireles

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Travessa

Lendo no bosque, Ferdinand Heilbuth ( França, 1828-1889) -
aquarela sobre papel com detalhes em guache, 24 x 33cm


Ai, por Deus, por vida minha!
Gosto de ti — gosto tanto

Dessa tua travessura

Que não dera o meu encanto,

Que não dera o meu gostar,

Nem por estrelas do céu,

Nem por estrelas do mar!

-

Alma toda de quimeras

Que acordou no paraíso

Vinda do leito de Deus;

E que rivais de teus olhos

Só tens dois olhoos — os teus!

Pareces mesmo criança

Que só vive e se alimenta

De luz, amor e esperança.

Ave sem medo à tormenta

Que salta e palpita e ri;

Não sabes como, não sabes,

As travessas primaveras

Assentam tão bem em ti!

-

Assentam sim, como as asas

Assentam no beija-flor;

Como o delírio dos beijos

Em uma noite de amor;

Como no véu que se agita

De beleza adormecida

A brisa mole e sentida!

-

Foi por ver-te assim —  travessa

Que eu pus a minha esperança

No imaginar de criança

Dessa formosa cabeça…

Foi por ver-te assim. — Que os sonhos

Eu sei como os tem, eu sei,

Puros, lindos e risonhos,

Um coração novo e calmo

Onde a lei do amor — é lei;

Foi por ver-te assim, que eu venho

por em ti as fantasias

De meus peregrinos dias,

Como a esperança no céu;

Em ti só, que és tão louquinha,

Em ti só por vida minha!

(1859) Machado de Assis

domingo, 13 de julho de 2014

A lavadeira

A lavadeira, 1920 Anita Malfatti ( Brasil 1889-1964)
óleo sobre tela, 37 x 50 cm
Coleção Particular

sábado, 12 de julho de 2014

Meio-dia

Paisagem de Santo Amaro, década de 1920 - Anita Malfatti ( Brasil, 1889-1964)
Óleo sobre madeira, 31 x 42 cm - Coleção Particular   

Meio dia. A abrasada calmaria

No amplo manto de fogo a mata esconde,
Na fornalha que envolve o meio-dia
O ouro do sol tempera o ouro da fronde.

Pesa o silêncio sobre a frondaria…

Desponta o rio não se sabe donde.
Só, com a voz da mata, em agonia,
Uma cigarra zine e outra responde…

É o grito humano que da natureza
Sobe ao tranquilo azul da imensidade,
Ungido de amargura e de incerteza…

Querem chorar as árvores sem pranto
E as cigarras ao sol clamam piedade
Para suas irmãs que sofrem tanto!


Olegário Mariano
Do livro: Últimas Cigarras, 1920.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Romero Brito

Romero Britto nasceu em Recife, Brasil, em 1963. Autodidata em tenra idade, ele pintou em superfícies como jornais. Em 1983, ele viajou para Paris, onde ele foi apresentado à obra de Matisse e Picasso. Ele combinou influências do cubismo com pop, para criar um estilo icônico vibrante que o The New York Times descreve ", exala calor, otimismo e amor."

Em 1988, Britto mudou-se para Miami e emergiu como um artista internacional. No ano seguinte, ele foi selecionado ao lado de Andy Warhol e Keith Haring para a campanha da Absolut Vodka "Absolut Art". Sensibilidade pop de Britto, desde então, inclinou-se para muitas colaborações com marcas como Audi, Bentley, Disney, Technomarine, Evian e FIFA, para quem ele criou um cartaz oficial para a Copa do Mundo de 2010. Ele também ilustrou vários livros publicados pela Simon & Schuster e Rizzoli. O trabalho de Britto tem sido exibido em galerias e museus em mais de 100 países, incluindo o Salon Nationale des Beaux-Arts exposição no Carrousel du Louvre, em 2008 e 2010. Ele também criou instalações de arte pública para a O2 Dome (Berlin), Hyde Park (Londres), John F. Kennedy Airport (Nova York), eo Cirque du Soleil no Super Bowl XLI.

Britto considera o papel de um artista para ser um agente de mudança positiva. Ele serve como um benfeitor, doando tempo, a arte e os recursos para mais de 250 organizações de caridade e várias placas como a Best Buddies International, e Hospital de Pesquisa Infantil St. Jude. Ele foi recentemente nomeado um benfeitor inaugural fundador da Harvard "Programa de Negociação Internacional", pelo Dr. Daniel Shapiro, em sua busca para a resolução pacífica de conflitos. Britto também falou durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, e em inúmeras escolas e instituições. No início de 2011, o Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, convidou Britto para criar o logotipo para a Rede Cegonha, um projeto para chegar a mais de 61 milhões de pré e pós-natal de mães e bebês. Romero foi selecionado para servir como embaixador para a Copa do Mundo 2014 no Brasil.



quinta-feira, 10 de julho de 2014

Meninas lendo livro

Meninas lendo livro
Jenny Nyström ( Suécia, 1854-1946)

Jenny Nyström nasceu em Kalmar, na Suécia em 1854. 
Pintora e ilustradora de livros, fez fama com seus inúmeros cartões de Natal e ilutrações para revistas. Em 1865 começou a estudar pintura na Göteborgs Escola de Arte e em 1873 foi aceita na Real Academia de Arte da Suécia, em Estocolmo onde estudou por oito anos. Conseguiu uma bolsa e foi para Paris, onde permaneceu de 1882-1886 estudando. Foi em Paris que descobriu o mercado dos cartões postais que estavam muito populares. Começou a produzí-los e assim entrou também para a ilustração de livros. Casou-se aos 33 anos. Faleceu em Estocolmo, em 1946, depois de uma carreira de sucesso.
Meninas lendo livro
Jenny Nyström ( Suécia, 1854-1946)

quarta-feira, 9 de julho de 2014

terça-feira, 8 de julho de 2014

Café Carioca

Café Carioca, 2008
Sérgio Vidal (Brasil, 1945)
acrílica sobre tela, 120 x 80 cm

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Leitura no Jardim

Leitura no jardim, s/d
Bela de Kristo (Hungria, 1920-2006)
óleo sobre tela, 79 x 74 cm
Christie’s Auction House, Londres
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domingo, 6 de julho de 2014

Mãos: o que fazemos com elas - 03












 













Guido Daniele, nasceu na República Checa em 1950, mas mora e trabalha em Milão. Frequentou o Liceu de Arte de Brera de 1964 a 1968. Depois fez o curso de escultura na Academia de Belas Artes de Brera de 1968 a 1972. De 1972 a 1974 frequentou a escola tibetana Tankas em Dharamsala na Índia. Começou sua carreira de artista visual com exposições solo e coletivas a partir de 1968. Em 1990 adicionou à sua experiência a técnica da pintura corporal pintando o corpo de modelos para fotos, filmes de publicidade, eventos. Com isso conseguiu unir as tradicionais técnicas do retrato, da pintura a óleo e da fotografia, trazendo para elas o conhecimento que tem da escultura, do objeto tridimensional. Em 2000 começou a sua obra MANI ANIMALI [mãos animais] que o projetou internacionalmente.