Quando chega, a tia Fifa passa o dedo nos móveis com luva branca, atrás de poeira.
Examina as unhas de todo o mundo.
Procura sujeirinha atrás de todas as orelhas e cheira todas as meias.
Inspeciona as novas instalações que mandou construir antes de chegar, de acordo com especificações rigorosas.
E ai de quem reclamar.
— Tia Fifa, nós somos pobres…
— Não interessa. Pobreza não é desculpa para desleixo. A África do Sul também era pobre e minha visita lá foi um sucesso. As instalações que mandei construir ficaram lindas. Impressionantes, imponentes…
— E imprestáveis. Dizem que eles não sabem o que fazer com as instalações que a senhora deixou lá, depois da sua visita…
— Bobagem. São belíssimas.
É importante saber que a tia Fifa não é como é por insensibilidade ou elitismo desvairado. Suas exigências, que parecem irrealistas, obedecem a um desejo de ordem social e estética. A tia Fifa sonha com um mundo limpo, em que as desigualdades entre ricos e pobres desaparecem desde que todos sigam as mesmas regras e tenham o mesmo gosto, e por isso a convidam.
— Mas tia Fifa, o dinheiro que nós vamos gastar para que a casa fique como a senhora quer não seria mais bem aproveitado na educação das crianças, ou na…
— Isso já não me diz respeito. Me convidaram e eu irei. Acabem as instalações que eu pedi no prazo e ponham a casa em ordem.
E mais uma coisa:
— O que, tia Fifa?
— Você está com mau hálito.
Providencie.
De Luis Fernando Verissimo,
publicado originalmente no jornal O Globo em 23/06/2013
publicado originalmente no jornal O Globo em 23/06/2013
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