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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Do Livro do Desassossego

"Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo.
Não sei onde me levará, porque não sei nada.
Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros.
Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo aos que são, os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo aos que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim.
Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero."



Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Escrevo, triste, no meu quarto.........

Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei.
E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. 

Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. 
Vivo mais porque vivo maior.
Bernardo Soares
(Heterônimo de Fernando Pessoa)

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Vivo mais porque vivo maior

"Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei.
E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios.
Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele.
Vivo mais porque vivo maior."


Bernardo Soares (heterônimo Fernando Pessoa)