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sábado, 1 de março de 2014

Todo o Sentimento

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente.
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar e urgentemente.

Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez,
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez.

Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente...
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.


Depois de te perder,
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada;
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.


Chico Buarque 
 (Muito obrigado DelaTorre pelas palavras, força e carinho)

 

terça-feira, 23 de julho de 2013

Sob Medida





Se você crê em Deus
Erga as mãos para os céus 

E agradeça 
Quando me cobiçou 
Sem querer acertou 
Na cabeça 
Eu sou sua alma gêmea 
Sou sua fêmea 
Seu par, sua irmã 
Eu sou seu incesto 
(seu jeito, seu gesto) 
Sou perfeita porque 
Igualzinha a você 
Eu não presto 
Eu não presto 
Traiçoeira e vulgar 
Sou sem nome e sem lar 
Sou aquela 
Eu sou filha da rua 
Eu sou cria da sua 
Costela 
Sou bandida 
Sou solta na vida 
E sob medida 
Pros carinhos seus 
Meu amigo 
Se ajeite comigo 
E dê graças a Deus 
Se você crê em Deus 
Encaminhe pros céus 
Uma prece 
E agradeça ao Senhor 
Você tem o amor 
Que merece


(Chico Buarque)

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Eu Te Amo




Ah, se já perdemos a noção da hora 
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Ah, se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternas 

Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão 

Se na bagunça do teu coracão
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido 

Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos 

Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta 

Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir
Ah!... 



Eu Te Amo
(Tom Jobim - Chico Buarque)

domingo, 21 de julho de 2013

Cadê Você

 

Me dê noticia de você 
Eu gosto um pouco de chorar
A gente quase não se vê 

Me deu vontade de lembrar

Me leve um pouco com você 
Eu gosto de qualquer lugar
A gente pode se entender 

E não saber o que falar

Seria um acontecimento 

Mas lógico que você some
No dia em que o seu pensamento 

Me chamou

Eu chamo o seu apartamento 

Não mora ninguém com esse nome
Que linda a cantiga do vento 

Já passou

A gente quase não se vê 

Eu só queria me lembrar
Me dê noticia de você 

Me deu vontade de voltar

Me dê noticia de você 

Eu gosto um pouco de chorar
A gente quase não se vê 

Me deu vontade de lembrar

Me leve um pouco com você 

Eu gosto de qualquer lugar
A gente pode se entender 

E não saber o que falar

Seria um acontecimento 

Mas lógico que você some
No dia em que o seu pensamento 

Me chamou

Eu chamo o seu apartamento 

Não mora ninguém com esse nome
Que linda a cantiga do vento 

Já passou

A gente quase não se vê 

Eu só queria me lembrar
Me dê noticia de você 

Me deu vontade de voltar


Cadê Você
(João Donato / Chico Buarque)

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Vitrines


Eu te vejo sair por aí
Te avisei que a cidade era um vão
- Dá tua mão
- Olha pra mim
- Não faz assim
- Não vai lá não

Os letreiros a te colorir
Embaraçam a minha visão
Eu te vi suspirar de aflição
E sair da sessão, frouxa de rir

Já te vejo brincando, gostando de ser
Tua sombra a se multiplicar
Nos teus olhos também posso ver
As vitrines te vendo passar

Na galeria, cada clarão
É como um dia depois de outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão
Chico Buarque

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Futuros Amantes

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios no ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você


                                                                     Chico Buarque 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Benvinda

Dono do abandono e da tristeza
Comunico oficialmente que há um lugar na minha mesa
Pode ser que você venha por mero favor,
ou venha coberta de amor
Seja lá como for, venha sorrindo
Ah, benvinda, benvinda, benvinda
Que o luar está chamando,
que os jardins estão florindo
Que eu estou sozinho
Cheio de anseio e de esperança,
comunico a toda gente
Que há lugar na minha dança
Pode ser que você venha morar por aqui,
ou venha pra se despedir
Não faz mal pode vir até mentindo
Ah, benvinda, benvinda, benvinda
Que o meu pinho está chorando,
que o meu samba está pedindo
Que eu estou sozinho
Vem iluminar meu quarto escuro,
vem entrando com o ar puro
Todo novo da manhã
Oh vem a minha estrela madrugada,
vem a minha namorada
Vem amada, vem urgente, vem irmã
Benvinda, benvinda, benvinda
Que essa aurora está custando,
que a cidade está dormindo
Que eu estou sozinho
Certo de estar perto da alegria,
comunico finalmente
Que há lugar na poesia
Pode ser que você tenha um carinho para dar,
ou venha pra se consolar
Mesmo assim pode entrar que é tempo ainda
Ah, benvinda, benvinda, benvinda
Ah, que bom que você veio,
e você chegou tão linda
Eu não cantei em vão
Benvinda, benvinda, benvinda. benvinda, benvinda


                                                                                Chico Buarque

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Dobrada à moda do Porto


Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.
Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo ...
(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).
Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.
                                                                            (Álvaro de Campos)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Profissional da Memória

Chico lê "O Profissional da memória",
poema do livro "Museu de tudo",
de João Cabral de Melo Neto
para o projeto Encontros inspiradores.