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terça-feira, 16 de outubro de 2012

Ladainha

Ao Carlos e a todos os que têm a coragem

de se reinventar todos os dias



Quis,
Insisti,
Sofri e
Esmoreci,
Mas resisti.


Sorri,
Abstraí,
Perdi,
Menti e
Parti.
Foi por um triz.


Corri,
Caí,
Desfiz,
Sumi e
Bebi.
Quase morri.


Quis e
Perdi.
Não consegui abstrair.
Caí,
Mas resisti.
Nem sei como sobrevivi.
Foi por um triz.


Quem sabe agora me permita ser tão somente feliz!!!! 
 










 
(Carlos Villarruel -- 2 de outubro de 2012)

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Basicamente



Para Elaine, Carol e Vitor


Não, darling, não quero compromissos.

Todas as histórias terão final feliz?
Não sei se todas, mas a minha terá.
Desejo a vida ao alcance dos dedos, do coração.
Quero tocá-la aos poucos,
Quero que ela me atravesse devagar, suave.
Talvez esteja escrito.
Jamais saberemos, porque a vida é.

Não, não me ocuparei com fins e começos.

O que, de fato, me interessa,
O que, de fato, importa
É que a vida não me imponha compromissos.
Não, não quero me comprometer.
Abomino os que assinam promissórias em branco.

Sim, darling, não quero me comprometer,
Quero ser livre
No limite da minha liberdade,
Pois comprometer-se é afirmar que o azul
Será sempre azul.
Mas o azul nem sempre é azul.
Pode ser escuro, anil, safira, acinzentado, um tanto cobalto,
Um pouco mais marinho.
Claro, escuro, mar, céu.


Não, darling, a vida pode ser leve,

Fortemente tai chi chuan,
Um pouco yin,
Noutras vezes, yang.
Uma brisa,
Um duelo de heróis,
Uma dança dos que, por cautela, se acovardam.
Uma coreografia de incoerências.
Tudo nela pode,
E nela posso tudo.

Peço a Deus
Que seja apenas um passo depois do outro,
Um pas de deux, 
Talvez, quem sabe, um carinho,
Um deslize,
Um tropeção.
Uma valsa, um bolero.


Basicamente, darling, a vida tem que ser.



E se alguém, darling, lhe disser que a vida
Deve ter outra cor,
Não acredite.
A vida, darling, terá a cor
Que roubarmos caprichosamente do arco-íris,
Pois nisso resiste o nosso heroísmo e a nossa resistência.


Às vezes, sou mais solar,

Às vezes, uma coloração duramente ninja,
Às vezes, um tom mais suave.
Às vezes, tudo e agora,
Impulsivamente rock-and-roll.
 
Às vezes, espero
Solenemente.

O importante é que a vida seja
Basicamente como deve ela deve ser.

Tenho pena daqueles que se acomodam

No preto e branco.

Sinto muito, darling, a vida é o que é.

Maktub!!! 




Carlos Villarruel (22.9.2012, às 3 horas)

domingo, 22 de julho de 2012

Curruíra



Para a Loura 
Teço, reteço, entristeço
Bordo, rebordo, enlouqueço
Traço, desfaço, esmoreço
Ponho, reponho, componho, sempre um recomeço
Linha a linha,
Graveto por graveto. 




Espero...
Ah, esta tempestade que não chega,
Que me evita,
Que não me contém,
Que...


Ah, esta dor lancinante, silenciosa, profunda,

Esta melancolia, estes desejos,
A tua boca que não mordisca meu pescoço... ainda.

Ah, teus olhos que não me veem,

Que não vêm,
Teus braços que não me assaltam,
Teu fogo que não me consome... ainda.

Ah, este vinho que não me embriaga,

Esta brisa que não me acalma
Este poema que não encontro... ainda.

Aconchego-me, enquanto te espero, na mansidão:

Teço, reteço, entristeço
Bordo, rebordo, enlouqueço
Traço, desfaço, esmoreço
Ponho, reponho, componho, sempre um recomeço
Linha a linha,
Graveto por graveto.


Ah, esta vontade de voar,
Ir pro meu céu,
Pro teu inferno,
Pro nosso paraíso.

Ainda não,

Ainda não é,
Por enquanto, espero-te.
Calma, paciente, silenciosa,

Louca, serena, saudosa.

Quando a desesperança me aflige,

Debruço-me, enquanto te espero, na mansidão:
Teço, reteço, entristeço
Bordo, rebordo, enlouqueço
Traço, desfaço, esmoreço
Ponho, reponho, componho, sempre um recomeço
Linha a linha,
Graveto por graveto.

Desenho castelos,

Assovio baixinho uma canção,
Faço um café,
Arrumo a cama,
Escolho a louça, os talheres e as flores,
Ponho a mesa,
Sento-me na varanda com a cuia ainda quente.

Enquanto te espero,

Refresco-me na mansidão:
Teço, reteço, entristeço
Bordo, rebordo, enlouqueço
Traço, desfaço, esmoreço
Ponho, reponho, componho, sempre um recomeço
Linha a linha,
Graveto por graveto.
Sou curruíra,
Às vezes, mansa,
Às vezes, tonta,
Mansa e tonta de saudades.
Não demore, meu amor!!!


Carlos Villarruel (18.6.2012; concluído em 20.6.2012)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Para Giovanna

A Giovanna fez um ano.
Meu Deus, um ano!
Tempo curto,
Existência que engatinha.
Dizem que Giovanna significa "Deus é cheio de bênção".
Dizem...
Linda, abusada, rápida e graciosa.
Olhos brilhantes que descortinam o mundo devagarzinho.
Nada escapa.
Tão pequena, tão frágil, tão dona de si.
Tudo nela a denuncia:
As feições de princesa altiva da mãe,
A força apaixonada do pai,
O jeito de flor da tia,
O entusiasmo amoroso do padrinho,
A beleza discreta da madrinha
E o sorriso maroto do avô.
Está tudo ali estampado no rosto da menina
Que brinca e se assusta com a boneca em forma de bruxa.
É claro que será feliz,
Será pessoa de bem.
Mas o que eu desejo de verdade,
Se me permitem,
É que ela seja consistente e doce como mel,
Que seja corajosa, forte, audaciosa, vaidosa,
Às vezes dura e, por isso mesmo, livre como a avó paterna.
Que seja mulher de verdade, como diz a música.
Se mel Giovanna for, a vida lhe sorrirá todos os dias.
Saudemos Giovanna e todo o seu séquito!
Se não formos tão felizes, ela será por nós.
Axé, Giovanna, axé!!!
 

                                                                                             Carlos Villarruel (24 de janeiro de 2012)

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Pretinha

Pretinha, menina feliz

Que me sorri

Que conversa comigo

Que ouve meus ais

Que brinca comigo

Capuchetas no ar

Pula-carniça, amarelinha,

Bolinhas de gude, esconde-esconde

Passa anel, jogo das pedrinhas

Tá quente, tá frio



Pretinha, menina feliz


Que canta comigo

Que me torna menino

Que me lembra que sou homem grande

Que me enche de esperança

Que me faz acreditar nos contos de fada

Em Papai Noel

No coelhinho da Páscoa

No amor entre os homens

Que me diz todos os dias

Com o seu bocão sorridente

Que Deus nos protege sempre

Apesar dos nossos vacilos



Pretinha, menina retinta


Que senta comigo na varanda

Para ver os balões coloridos

Que abrem caminho no céu

"Num pode soltá balão, é perigoso", diz pretinha

Tão cautelosa é pretinha

Ela cuida de mim, dos meus sonhos

Das minhas esperanças

"Ah, pretinha, na vida tem tanta coisa perigosa, né?"

"Isso é verdade..."

Pretinha menina retinta é feliz

E gosta de mim

Somos tão felizes...

"Tá na hora de dormir, pretinha"

"É, mas antes precisamos rezar"



Pretinha menina retinta feliz


Eu e pretinha... Assim

                                                                   Carlos Villarruel
(13.2.2012)

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Morrer para dormir

                                                                                                                            Pra Marcelo Fromer

Ah! Essa dor lancinante

Essa "coisa" que atordoa a alma

E nos desconcerta

Mas que acalenta

Como uma singela canção de ninar.



Ah! Esses nossos sonhos


Que vão e se perdem pelo infinito

No horizonte inexorável

Daquilo que chamamos existência.



Ah! Os livros que não leremos


Os discos que jamais ouviremos

As bocas que esperarão inutilmente nosso beijo mais apaixonado

Perdemo-nos nas lembranças

Em falsas fotografias

Num intricado jogo de desejos vãos.



Ah! Falar e ocultar nossos amores


(Como era bom contê-los! Tão platônicos!)

Irresistíveis amores

Com suas dores exatas

Nossas perdas inevitáveis

Imponderáveis ilusões.



Ah! Como tudo dói


Profundamente

Num abismo

Num resumo patético de nossa vida

Dói porque é assim

Nada se pode fazer

Há uma resignação, finalmente.



Ah! Como é assustadoramente lógico


Como é tão indignamente racional

Dói

Numa sofreguidão sem fim

Na constatação "irracional"

De que é "só" isso

Mais nada.



Refugiamo-nos nas lembranças


Em sonhos à toa

Em recordações sem música

Sem volta

Na impossibilidade do reparo

Sem a chance para o arrependimento

Sem poder acordar

Como um vazio que fica

E que sempre esteve ali e aqui.



Ah! Como tudo é como é


Tão assim

Tão nada

Tão simplesmente porque é

Tão claro

Insuportavelmente óbvio.



Ah! O que nos resta então?


Talvez Chet Baker

Murmurando

Na dor intrínseca

Na ferida escancarada

Na saudade doída

Somewhere over the rainbow...



Ah! Quem sabe...




                                                         Carlos Villarruel (escrito em 13.6.2001; revisto em 20.11.2011)

terça-feira, 8 de maio de 2012

Destino

Dito, escrito, irreversível!



Timão que conduz a vida,


Que guia o olhar para o horizonte.

Aurora e turbilhão,

Medo e esperança,

Saudade e morte,

Certezas e solidão.



Dito, escrito, irreversível!




Madrugada embriagada,


Olhar inocente,

Carne que pulsa e apodrece,

Insanos e contidos desejos,

Sorte e sangue.



Dito, escrito, irreversível!




Paixão lancinante,


Amor quietinho,

Braços febris,

Acenos ligeiros,

Solitude inexorável.



Dito, escrito, irreversível!




Começo, meio e ponto final,


Luzes acesas,

Cortinas cerradas,

Imagens mudas,

Reflexo feliz.



Assim, sem tirar nem pôr:


Dito, escrito, irreversível!

                                                                                                         Carlos Villarruel (6.5.2012)

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Dois Chapéus


Dois chapéus...
Para Cadu e Rê (em ordem alfabética)

Um panamá e um fedora...
Vistosos, europeus, alvissareiros,
Limpos, macios, finos, perfumados.
Um dentro do outro, encarnados,
Metidos, copulados, introduzidos
Um noutro.

Dois chapéus, cúmplices,
Imagem de amor,
De sexo ardente, profano e profundo.
Dor e sabor, prazer lambuzado, saciado e por vir.
Esperança nos olhos...
Cruzam os olhares, buscam a certeza em si mesmos,
Na troca que só lhes cabe.
A todo instante, brindam com sinais delicados, silenciosos e discretos,
Da alma, do coração.
Escorpio, intenso, sensual, viril e panamá.
Aquarius, idealista, livre, objetivo e fedora.
Contrários, completos, dispostos, românticos.
Quem poderá traduzi-los?
Trocam confidências na sintonia do silêncio.
Atentos e atônitos.
Ansiosos e provocadores.
Vassalos e senhores.
Troca-troca, troca e destroca, xeque-mate!!!!

Dois chapéus fundidos
Ilhados
Dançarinos bêbados no meio da multidão
Fartam-se de confetes e champanhe
Embriagam-se em demasia e dançam nus no salão.

Dois chapéus em si, na mesa,
Perto das flores que os decoram.
Um panamá e um fedora.
Dois num.
Chapéus na mesa, no turbilhão.
Dois chapéus simples assim.
Agora, panamá e fedora fecham discretamente a porta do quarto.
É a hora de mais um gozo em homenagem à vida.                                                                       
Carlos Villarruel (20 de outubro de 2011)

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Em Vida...

"Deus permita que eu esteja vivo no dia de minha morte."
(Winnicott)

É bem possível que, neste instante, olhos atentos queiram desnudar-me e alvejar-me com lanças que toquem meu coração e o façam calar.
É bem possível que, neste momento, haja um ladrão à minha espreita, ansioso por furtar-me os desejos mais recônditos.
É bem possível que, neste instante, uma guitarra portuguesa embriagada de tanta solidão dedilhe as notas derradeiras da trilha sonora que não me coube.
É bem possível que, neste momento, um cataclismo, um furacão e um terremoto enfurecidos me lancem pelos ares e espalhem pedaços meus pelo mar.
Neste momento de desolação, é bem possível que nada valha a pena, que pouco me reste, que nada seja permitido, que tudo se perca nos vãos do esquecimento.

Entretanto, neste mesmo instante (pois tudo n'alma acontece ao mesmo tempo), uma estrela talvez brilhe no céu escuro e eu sinta (ou finja) que ela me sorri ingenuamente.
Então, neste momento, é bem possível que um anjo lindo, de cabelos bem encaracolados, desnude-me e brinque comigo como nos meus tempos de quintal.
É bem possível que, neste momento, o amor me desperte de sonhos confusos e traga os castelos roubados no tempo da minha inocência.
É bem possível que, neste momento, eu componha uma modinha bem simples, de estrofes fáceis e notas alegres, que me faça chorar de felicidade e saudade.
É bem possível que, neste momento, o sopro divino me lance no ar e me faça voar livre e despido de tudo aquilo que não me serve e que, por isso, me ornamenta.
Neste momento de sonho possível, é bem provável que alguém chegue e me resgate da melancolia que me consome, tranquilize meu coração inquieto, não permita que a morte me devore e me devolva novamente a Deus.

E assim, no meio de tudo que me acomete o tempo todo e a qualquer hora, poderei brincar com meus sentimentos e minhas palavras.
Poderei, enfim, fazer das palavras que conheço e me servem as peças que se encaixam nos sentimentos que me excitam.
Assim, os sentimentos poderão ser refletidos por palavras encantadas, que transformam a mim e minha existência na mais santificada das poesias.
Carlos Villarruel
3.9.2011