segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Basicamente



Para Elaine, Carol e Vitor


Não, darling, não quero compromissos.

Todas as histórias terão final feliz?
Não sei se todas, mas a minha terá.
Desejo a vida ao alcance dos dedos, do coração.
Quero tocá-la aos poucos,
Quero que ela me atravesse devagar, suave.
Talvez esteja escrito.
Jamais saberemos, porque a vida é.

Não, não me ocuparei com fins e começos.

O que, de fato, me interessa,
O que, de fato, importa
É que a vida não me imponha compromissos.
Não, não quero me comprometer.
Abomino os que assinam promissórias em branco.

Sim, darling, não quero me comprometer,
Quero ser livre
No limite da minha liberdade,
Pois comprometer-se é afirmar que o azul
Será sempre azul.
Mas o azul nem sempre é azul.
Pode ser escuro, anil, safira, acinzentado, um tanto cobalto,
Um pouco mais marinho.
Claro, escuro, mar, céu.


Não, darling, a vida pode ser leve,

Fortemente tai chi chuan,
Um pouco yin,
Noutras vezes, yang.
Uma brisa,
Um duelo de heróis,
Uma dança dos que, por cautela, se acovardam.
Uma coreografia de incoerências.
Tudo nela pode,
E nela posso tudo.

Peço a Deus
Que seja apenas um passo depois do outro,
Um pas de deux, 
Talvez, quem sabe, um carinho,
Um deslize,
Um tropeção.
Uma valsa, um bolero.


Basicamente, darling, a vida tem que ser.



E se alguém, darling, lhe disser que a vida
Deve ter outra cor,
Não acredite.
A vida, darling, terá a cor
Que roubarmos caprichosamente do arco-íris,
Pois nisso resiste o nosso heroísmo e a nossa resistência.


Às vezes, sou mais solar,

Às vezes, uma coloração duramente ninja,
Às vezes, um tom mais suave.
Às vezes, tudo e agora,
Impulsivamente rock-and-roll.
 
Às vezes, espero
Solenemente.

O importante é que a vida seja
Basicamente como deve ela deve ser.

Tenho pena daqueles que se acomodam

No preto e branco.

Sinto muito, darling, a vida é o que é.

Maktub!!! 




Carlos Villarruel (22.9.2012, às 3 horas)

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