quarta-feira, 9 de maio de 2012

Morrer para dormir

                                                                                                                            Pra Marcelo Fromer

Ah! Essa dor lancinante

Essa "coisa" que atordoa a alma

E nos desconcerta

Mas que acalenta

Como uma singela canção de ninar.



Ah! Esses nossos sonhos


Que vão e se perdem pelo infinito

No horizonte inexorável

Daquilo que chamamos existência.



Ah! Os livros que não leremos


Os discos que jamais ouviremos

As bocas que esperarão inutilmente nosso beijo mais apaixonado

Perdemo-nos nas lembranças

Em falsas fotografias

Num intricado jogo de desejos vãos.



Ah! Falar e ocultar nossos amores


(Como era bom contê-los! Tão platônicos!)

Irresistíveis amores

Com suas dores exatas

Nossas perdas inevitáveis

Imponderáveis ilusões.



Ah! Como tudo dói


Profundamente

Num abismo

Num resumo patético de nossa vida

Dói porque é assim

Nada se pode fazer

Há uma resignação, finalmente.



Ah! Como é assustadoramente lógico


Como é tão indignamente racional

Dói

Numa sofreguidão sem fim

Na constatação "irracional"

De que é "só" isso

Mais nada.



Refugiamo-nos nas lembranças


Em sonhos à toa

Em recordações sem música

Sem volta

Na impossibilidade do reparo

Sem a chance para o arrependimento

Sem poder acordar

Como um vazio que fica

E que sempre esteve ali e aqui.



Ah! Como tudo é como é


Tão assim

Tão nada

Tão simplesmente porque é

Tão claro

Insuportavelmente óbvio.



Ah! O que nos resta então?


Talvez Chet Baker

Murmurando

Na dor intrínseca

Na ferida escancarada

Na saudade doída

Somewhere over the rainbow...



Ah! Quem sabe...




                                                         Carlos Villarruel (escrito em 13.6.2001; revisto em 20.11.2011)

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