terça-feira, 31 de janeiro de 2012

As Rosas


Rosas que desabrochais,
Como os primeiros amores,
Aos suaves resplendores
          Matinais;

Em vão ostentais, em vão,
A vossa graça suprema;
De pouco vale; é o diadema
          Da ilusão.

Em vão encheis de aroma o ar da tarde;
Em vão abris o seio úmido e fresco
Do sol nascente aos beijos amorosos;
Em vão ornais a fronte à meiga virgem;
Em vão, como penhor de puro afeto,
          Como um elo das almas,
Passais do seio amante ao seio amante;
          Lá bate a hora infausta
Em que é força morrer; as folhas lindas
Perdem o viço da manhã primeira,
          As graças e o perfume.
Rosas que sois então? – Restos perdidos,
Folhas mortas que o tempo esquece, e espalha
Brisa do inverno ou mão indiferente.

          Tal é o vosso destino,
          Ó filhas da natureza;
          Em que vos pese à beleza,
                   Pereceis;
          Mas, não... Se a mão de um poeta
          Vos cultiva agora, ó rosas,
          Mais vivas, mais jubilosas,
                   Floresceis.

                                                                                                     Machado de Assis, in 'Crisálidas'

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