sábado, 25 de agosto de 2012

"Tarado é toda pessoa normal pega em flagrante"

"Tarado é toda pessoa normal pega em flagrante"

Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos.

Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível.

Dinheiro compra tudo. Até amor verdadeiro.

Só não estamos de quatro, urrando no bosque, porque o sentimento de culpa nos salva.

No Brasil, quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte.

A morte de um velho amigo é uma catástrofe na memória. Todas nossas relações com o passado ficam alteradas.

Deus só freqüenta as igrejas vazias.

Copacabana vive, por semana, sete domingos.

Não ama seu marido? Pois ame alguém, e já. Não perca tempo, minha senhora!

A fome é mansa e casta. Quem não come não ama, nem odeia.

Todo ginecologista devia ser casto. O ginecologista devia andar de batina, sandálias e coroinha na cabeça. Como um são Francisco de Assis, com a luva de borracha e um passarinho em cada ombro.

A verdadeira grã-fina tem a aridez de três desertos.


No passado, a notícia e o fato eram simultâneos. O atropelado acabava de estrebuchar na página do jornal.


Não reparem que eu misture os tratamentos de tu e você. Não acredito em brasileiro sem erro de concordância.


Nossa ficção é cega para o cio nacional. Por exemplo: não há, na obra do Guimarães Rosa, uma só curra.


Os magros só deviam amar vestidos, e nunca no claro.


Um filho, numa mulher, é uma transformação. Até uma cretina, quando tem um filho, melhora.


O cardiologista não tem, como o analista, dez anos para curar o doente. Ou melhor: - dez anos para não curar. Não há no enfarte a paciência das neuroses


Não há ninguém mais vago, mais irrelevante, mais contínuo do que o ex-ministro.


Nunca a mulher foi menos amada do que em nossos dias.


O Natal já foi festa, já foi um profundo gesto de amor. Hoje, o Natal é um orçamento.


Enquanto um sábio negro não puder ser nosso embaixador em Paris, nós seremos o pré-Brasil.


Se eu tivesse que dar um conselho, diria aos mais jovens: - não façam literatice. O brasileiro é fascinado pelo chocalho da palavra.


Qualquer menino parece, hoje, um experimentado e perverso anão de 47 anos.


Quero crer que certas épocas são doentes mentais. Por exemplo: - a nossa.


Sexo é para operário.


Desconfio muito dos veementes. Via de regra, o sujeito que esbraveja está a um milímetro do erro e da obtusidade.


Falta ao virtuoso a feérica, a irisada, a multicolorida variedade do vigarista.


                                             Nelson Rodrigues

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