sexta-feira, 13 de junho de 2014

A chuva fez azul nosso horizonte


Paisagem, s/d
Georgina de Albuquerque ( Taubaté, SP 1885 — RJ,RJ, 1962)
Aquarela sobre papel, 34 x 44 cm
Coleção Particular


A chuva fez azul nosso horizonte.
Pintou no vale a cor da esperança.
Encheu de anêmonas, miosótis, margaridas,
Do campo aberto, ao sopé do monte.
Brotaram pintassilgos e abelhas.
No rio, a cada curva um jatobá.
No cheiro do capim ao sol ardente
Paravam insetos, lagartos e até o ar.
Na sombra escura o gado se perfila,
Debaixo de mangueiras generosas,
E espera em silêncio sonolento
O alívio do calor. Passam-se as horas.
Ao sinal distante da capela na aldeia,
Quando o sol se apaga atrás da serra,
As nuvens, uma a uma, se enfileiram.
Primeiro, brancas, alegres, arredondadas,
Depois cinzas, sem forma e pesadas.
Acomodam-se, ao sul, entre montanhas.
E qual ninhada de cachorros desmamada,
Que luta, reclama e se aquieta ’inda faminta
Com roncos e rugidos passam a noite.
O vento as nina… Mas ao brilho de relâmpago
Fugaz, recomeça o murmúrio no horizonte.
Qual relógio mecânico e em tempo,
As nuvens acordam o sol sem cerimônia,
E em prantos limpam bem o firmamento,
Para de novo azularem o horizonte.


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