sábado, 8 de outubro de 2011

Loucos e Santos



Escolho meus amigos não pela pele 
ou outro arquétipo qualquer, 
mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador 
e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem 
o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças 
e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade 
sua fonte de aprendizagem, 
mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; 
e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, 
nunca me esquecerei de que "normalidade" 
é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

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